segunda-feira, 18 de abril de 2011

Testemunho de Rosane Marmitt


No dia 21/08/02, estava eu morando na cidade de Verê no Paraná, quando fui visitar meus pais em São Jorge do Oeste, no mesmo estado, junto com meu marido e meus dois filhos. Ao retornarmos para Verê, estava chovendo, não muito, mas uma forte garoa. Quando tínhamos feito aproximadamente 8 Km, em uma curva sofremos uma aqua derrapagem e voamos contra um pé de uva Japão que estava próximo do asfalto. Por incrível que pareça o carro ficou a 4 metros de altura. Estava com meu filho menor, Gustavo, em meus braços, pois o estava amamentando, no momento em que saímos da estrada. Só me lembro do mato batendo em meu rosto. Acordei alguns minutos depois, com meu filho ainda no meu colo, tentei acordá-lo, pois achei que estava dormindo, logo vi que ele estava em coma. Quando comecei a chamar por socorro, vi meu outro filho Vagner logo na minha frente sangrando muito pelo nariz e pela boca, e vi seu crânio, na parte lateral direita afundado, tentei chamá-lo, ele ainda resmungou. Foi quando acordei o pai deles, que estava ao lado e que o pegou no colo e fomos para o asfalto. Naquele momento quase fui atropelada com meu filho menor no colo, minha sorte foi que o carro desviou. Quando parei no meio do asfalto, apareceu um anjo, que hoje não está mais aqui, também minha madrinha e tia, que nos socorreu, levando-nos ao hospital. No hospital recebi a notícia de que era muito grave o estado dos meninos, que foram arrancados de meus braços da forma mais cruel possível e levados para a cidade de Francisco Beltrão, a 70 Km de onde estávamos. Também estava muito machucada e recebi atendimento ali mesmo. Também precisei ser levada para Francisco Beltrão, quando entrei na U.T.I, jamais imaginava ver meus filhos naquele estado. O mais novo, Gustavo, que na época tinha 7 meses, continuava em coma, intubado. Quando olhei para o lado, vi o mais velho, Vagner, traqueostomizado, para poder respirar.
Também precisei ficar internada. Por volta das 14:30, me veio a pior das notícias, meu filho mais velho estava morto. Meu mundo desabou, queria morrer. Tive alta do hospital, e quando cheguei para o velório, vi o quanto as pessoas gostavam de mim. Recebi muitas palavras de conforto, e o calor humano foi o que mais me ajudou. Vi que não estava sozinha, e vi também que Deus havia preparado algo para mim. No dia seguinte sepultamos Vagner.
Depois disso veio a agonia da espera pela recuperação de Gustavo. Quatro dias depois, veio a triste notícia de que ele também havia falecido. Aí só me restou a dor, a solidão, a agonia e a desilusão. Nem acreditava mais em nada, nem mesmo em Deus. Falei até que Ele era cruel.
Fiz laqueadura, não posso mais ter filhos. Meu mundo desabou.
Veio então o arrependimento. E foi aí que me apeguei a Deus novamente, encontrando conforto para tanta dor. Eu fui me aquietando, me aquietando. E hoje entendo que Deus só coloca em nossos ombros a carga compatível com nossas forças e ainda nos ajuda a carregar. Tudo na vida tem um propósito, e creio que o meu é Mateus, que adotei há cinco anos. Ele tinha 3 anos e meio e se encontrava muito doente quando o levei para casa. Ele nasceu 3 meses após o acidente e eu nem imaginava que ele existia, mas Deus o conduziu até os meus braços para que eu pudesse cuidá-lo.
Graças a Deus dei conta do recado. Hoje ele está curado após duas cirurgias auditivas, que recuperaram sua audição.
Quero repassar principalmente as mães que tiveram algum tipo de perda, seja da forma que for, pois nunca estamos preparadas psicologicamente, mas Deus conhece o nosso ontem e o nosso amanhã muito bem, e está ao nosso lado, nunca nos abandona.
Também não devemos questioná-lo, pedindo o por que das coisas, mas sim para que? No final encontraremos a resposta, pois ela pode demorar até Deus nos moldar da forma que Ele quer.
E quando estivemos moldados, Ele pega em nossa mão e nos conduz da maneira que Ele acha melhor, e nunca da forma que achamos conveniente para nós.
Essa é a minha história. Posso dizer que renasci das cinzas e estou aqui firme e forte para contá-la.

Rozane Marmitt

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